Carros elétricos deixaram de ser futurismo para se transformarem em uma oportunidade real no segmento automotivo, inclusive no Brasil. Isso ficou evidente no Salão do Automóvel de 2018, em São Paulo, que proporcionou ao público contato com três novos modelos elétricos: Chevrolet Bolt, Nissan Leaf e Renault Zoe. Os três já estão com preço de mercado divulgado pelas fabricantes.

Mesmo diante deste novo cenário, vale ressaltar que o Brasil ainda tem grande participação em matrizes energéticas não renováveis. De acordo com dados da Resenha Energética Nacional de 2017, somente o petróleo responde por 36,5% das matrizes energéticas utilizadas no país. Este índice é 5% maior do que a média em todo o mundo, o que mostra a dependência brasileira do uso de derivados desse combustível.

No entanto, 42,5% das matrizes energéticas brasileiras são renováveis. São fontes que utilizam biomassas (cana, milho, madeira), luz solar e vento para gerar energia. Dado bem superior à média mundial, que é de 12,7%.

As maiores fabricantes de veículos no mundo já perceberam que esse cenário energético renovável amplia o potencial do Brasil quanto aos carros elétricos. Não à toa, esses veículos dominaram a pauta de lançamentos do Salão do Automóvel de 2018. E isso é ventilado, inclusive, pelas próprias montadoras:

O mercado de carros elétricos no Brasil é muito incipiente. Ainda é preciso dar o primeiro passo. É uma tendência mundial e o Brasil não poderia ficar fora desta tendência.


Marco Silva, presidente da Nissan do Brasil, em webinar da Automotive Business

Aos puristas, que ainda se importam com a dirigibilidade e outros detalhes, como o ronco do motor – que não existe nos elétricos -, há uma boa notícia. De acordo com Silva, essa nova experiência com carros elétricos também deve mudar o modo de dirigir do brasileiro. “O torque, velocidade alcançada ou necessidade de mais força no veículo, você tem em um carro elétrico e não tem em um carro a combustão”, salienta o executivo.

Quais carros elétricos foram anunciados no Salão?

O primeiro a ganhar as ruas deve ser o Nissan Leaf, que já vendeu cerca de de 360 mil unidades em todo o mundo. O modelo está em pré-venda e custará R$ 178.400.

Com um motor de 149 cv e 32,6 kgfm de torque, o nipônico tem autonomias de 240 ou 320 km dependendo das baterias. Oito horas é o tempo de recarga para a autonomia completa. O primeiro contato de grande parte do público brasileiro com o modelo aconteceu ainda em 2011, no Nissan Inova Show, evento itinerante que passou por capitais brasileiras e apresentou o compacto March, lançado naquele ano. Em 2012, a fabricante cedeu 25 modelos às prefeituras de São Paulo e Rio de Janeiro. Juntos, os modelos rodaram cerca de 2,2 milhões de km.

Mais barato entre os anunciados, o Renault Zoe chega por R$ 149.990. Com 300 km de autonomia, a fabricante destaca a tecnologia de freios regenerativos que ajudam na recarga da bateria. Ou seja, a energia cinética gerada ao pisar no pedal do freio é reaproveitada para gerar carga à bateria. A etiquetagem do Inmetro garante o selo “A”, que pertence aos veículos com o maior índice de economia.

Outro modelo apresentado foi o Chevrolet Bolt EV. Com 203 cv de potência e 36,8 kgfm de torque, é o mais potente entre os elétricos apresentados, com preço estimado em R$ 175 mil.

Dados da Chevrolet apontam autonomia de até 383 km. É possível carregar o Bolt em uma tomada comum, que dá autonomia de 10 km a cada hora de carga. Em um carregador rápido, uma hora de carga será o necessário para garantir 40 km de rodagem.

Ter pelo menos três lançamentos elétricos por marcas de varejo é um sinal importante. Mostra que as fabricantes veem no Brasil um grande futuro quando o assunto é demanda pelos carros elétricos. Mas será que o país está preparado para receber esse tipo de veículo?

O desafio da infraestrutura

Embora a matriz elétrica não seja um desafio, a infraestrutura de recarga ainda é bem tímida no país, e está sendo tocada pela iniciativa privada. Também não há, ainda, legislação para a comercialização da energia elétrica como serviço, o que dificulta o surgimento de eletropostos.

De olho no crescimento do interesse do público em carros elétricos no Brasil, a BMW, em parceria com a EDP, inaugurou seis postos de recarga na Rodovia Presidente Dutra, que liga a cidade de São Paulo ao Rio de Janeiro.

Com o investimento, os 430 km do trecho entre as duas maiores capitais do Brasil tornou este o maior corredor elétrico da América Latina. São três pontos de recarga em cada um dos sentidos da rodovia, com uma distância de 120 km entre cada um, o que ajuda a superar a limitação de autonomia dos elétricos. Para a BMW, o Brasil poderia discutir mais a implementação desses pontos em locais privados.

“Devemos incentivar os prédios comerciais e residenciais a fazerem instalações. Dessa forma, o momento da recarga torna-se quase imperceptível, visto o tempo que o motorista passa em casa ou no trabalho.”

Henrique Miranda, gerente de Marketing e Produto da BMW

O investimento da BMW mostra que os fabricantes não só enxergam receptividade no mercado brasileiro, como também estão dispostas a investir para que esse projeto saia de vez do papel. O pontapé disso são os carros híbridos.

Os híbridos são carros que possuem dois motores, um elétrico e outro à combustão. São exemplos no nosso mercado o Ford Fusion Hybrid e o Toyota Prius, um dos mais vendidos em todo o mundo.

Dados da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) já apontam crescimento de 70,73% nas vendas de carros híbridos e elétricos de janeiro a abril de 2018.

Seguindo uma regra do mercado nacional, a tendência é de que o motor a combustão dos veículos híbridos passe, também, a ser flexível em combustível. Aí o consumidor poderá escolher abastecer com etanol ou gasolina, o que virou regra no mercado a partir de 2003, quando a Volkswagen lançou o Gol Total Flex.

Estes veículos podem ser a porta de entrada para o consumidor brasileiro, que é um tanto conservador no quesito automóvel. Afinal, veículos com quatro portas e motores de 16 válvulas, que são muito comuns hoje, nas décadas 1980 e 1990 eram olhados com muita desconfiança pelo mercado, acostumado à simplicidade da época.

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Mas… o que sua concessionária tem a ver com tudo isso?

Em uma entrevista à Automotive Business, Henrique Miranda, gerente de mobilidade e conectividade da BMW, afirmou que a taxa de conversão de quem faz o test drive em um carro elétrico chega a ser 10 vezes maior do que o de quem faz o test drive em um carro à combustão.

Isso escancara a mudança de comportamento do consumidor não para o futuro, como imaginávamos, mas para o presente. O público mais jovem é aquele que está mais ligado nas novidades do mercado —  em parte por ter mais ligação com valores como sustentabilidade e compartilhamento.

Os millennials são os próximos a compor a maior parte do segmento automotivo. Também chamados de Geração Y, este público é composto pelos nascidos entre o início da década de 1980 e o fim da década de 1990.

O comportamento deles é tão diferente que 42% deste público prefere usar a internet para agendar serviços em concessionárias. Eles também costumam apresentar comportamento mais criterioso, pesquisam mais e esperam mais das marcas.

A chegada dessas novas gerações, com padrões e comportamentos tão diferentes, assusta. No entanto, isso tudo indica apenas o começo de um novo ciclo da indústria automobilística e exige uma nova forma de tratar e perceber o consumidor.

É preciso estar atento a essa nova realidade do mercado e compreender como ela irá alterar a atuação das concessionárias. Afinal, elétricos e autônomos não são mais um exercício de futurologia — é hora de planejar como vendê-los.

BÔNUS: Novidade? Nem tanto assim…

Se parece novidade, é melhor olhar pelo retrovisor e ver que carros elétricos no Brasil não é assunto recente. Em 1974, a Gurgel Motores apresentou no Salão de São Paulo um minicarro elétrico com capacidade para dois passageiros.

Este minicarro foi o primeiro automóvel elétrico desenvolvido na América Latina. Não foi fabricado mas serviu de base para os modelos E-400 e E-500, vendidos em 1981 e 1982 nas carrocerias de furgão e pick-up. Com 13,6 cv de potência, era capaz de alcançar 80 km/h de velocidade máxima e percorrer de 127 km por recarga.

Ganhou as ruas em poucas quantidades e fez parte, principalmente, de frotas de empresas estatais. Deixou de herança a carroceria, que foi aproveitada no modelo G-800 e usou propulsor elétrico por um boxer, refrigerado a ar, de origem Volkswagen, mesma família dos motores do Fusca. Foi fabricado até 1988.

Em 2007, como caráter experimental, foi homologado como protótipo uma Palio Weekend elétrica. Resultado de parceria entre Fiat, a usina Itaipu Binacional e a KWO, empresa suíça de distribuição de energia, o modelo mostra que os veículos evoluíram muito em pouco tempo.

Debaixo do capô, o motor de modestos 20 cv e 5,1 kgfm de torque tinha autonomia de apenas 120 km. De 0 a 60 km/h eram necessários nove segundos e a velocidade máxima era de 100 km/h. Desempenho não era o destaque do modelo. Eram necessários 37 segundos para chegar na velocidade máxima.

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Sobre o Autor

Tiago Fernandes
Tiago Fernandes

Administrador, sócio-fundador e CEO da AutoForce.

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